“Ainda
que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu
estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl
23.4)
Literalmente
falando, o vale é uma “área de baixa altitude cercada por áreas mais altas,
como montanhas ou colinas”. Na cultura bíblica, o vale é figura de uma condição
de humilhação e sofrimento. O vale é lugar
de solidão, de sensação de desamparo, de esmagamento da alma. Quem está no
vale, se percebe cercado por montanhas, que projetam suas sombras, tirando o
senso de direção. A escuridão do vale traz a cor da morte. Ali, naquele lugar
frio e escuro, o cerco do inimigo nos deixa encurralados. Sente-se o perigo, o
“terror noturno” percorre a espinha, mas a escuridão do vale não nos permite
saber de onde virá “a peste que se propaga nas trevas” (Sl 91.5a, 6a). Essa
desorientação, somada ao terror, produz uma angústia profunda na alma, de tal
intensidade que chega-se a senti-la fisicamente. O vale é um lugar terrível
como a morte; um lugar sem saída, um caminho sombrio por onde ninguém neste
mundo gostaria de passar. Mas todos passam.
Contudo,
para os que pela fé em Cristo se tornaram “o seu povo e rebanho do seu
pastoreio” (Sl 100.3b), há paz,
segurança e consolo no vale. O “Supremo Pastor” está conosco no vale, e não
está de mãos vazias. Sua vara e seu cajado são a garantia de que não morreremos
no vale. Primeiro porque, assim como o pastor batia amorosamente na ovelha
prestes a se desgarrar, a fim de trazê-la de volta, o Senhor nos disciplina no
vale quando nosso desespero e incredulidade nos levam a procurar caminhos que,
longe de nos tirar do vale, levar-nos-iam à destruição. Em segundo lugar, com
uma das suas extremidades pontiagudas, o pastor a usava para afugentar
predadores prestes a devorar a ovelha desavisada. Do mesmo modo, nosso Supremo
Pastor nos protege em nossa fragilidade exposta no vale, a fim de que o inimigo
de nossas almas não nos toque (1 Jo 3.18). Na outra mão trazia o pastor o
cajado, cuja ponta arqueada era usada para puxar a ovelha pela perna ou pelo
pescoço para junto de si, ou para junto do rebanho. A vara só era usada quando a ovelha resistia à tração do cajado. Não há consolo maior do que quando,
sufocados pela escuridão sombria do vale, somos “puxados” pelo Senhor para junto
dele e trazidos de volta do pesadelo da solidão à realidade de sua companhia
sustentadora. “Vara” e “cajado” são figuras que nos lembram que, na comunhão do Senhor, teremos disciplina,
proteção, direção e segurança no vale. À luz da totalidade da revelação,
ficamos sabendo, ainda, que o nosso Bom Pastor tanto nos amou que passou ele mesmo pelo vale e bebeu, em nosso
lugar, o cálice da morte. Ali naquela cruz ele desceu o mais profundo dos
vales, recebendo sobre si “o castigo que nos traz a paz” (Is 53.5). "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro
foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele
não abriu a boca" (Isaías 53:7).
Não
podemos evitar o vale. Contudo podemos desfrutar da segurança e do consolo do
Senhor Jesus. Por isso, podemos cantar no vale: “O Senhor é meu pastor nada me faltará”. Pois em cada
experiência de perda, angústia, tristeza, opressão, fraqueza e humilhação que
passarmos neste mundo, a vara e o cajado do Bom Pastor nos assegurarão de que
quer caminhemos “por sobre os montes”, quer passemos “pelos vales” estaremos
“sempre na luz”. Diante dessas verdades, podemos afirmar confiadamente, mesmo
que passemos pelo vale: “Bondade e misericórdia me (per)seguirão todos os dias da minha vida; e
habitarei na Casa do Senhor para todo o
sempre”! Amém!
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