quinta-feira, 4 de outubro de 2012

PAZ NO VALE



“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4)

Literalmente falando, o vale é uma “área de baixa altitude cercada por áreas mais altas, como montanhas ou colinas”. Na cultura bíblica, o vale é figura de uma condição de humilhação e sofrimento. O vale é lugar de solidão, de sensação de desamparo, de esmagamento da alma. Quem está no vale, se percebe cercado por montanhas, que projetam suas sombras, tirando o senso de direção. A escuridão do vale traz a cor da morte. Ali, naquele lugar frio e escuro, o cerco do inimigo nos deixa encurralados. Sente-se o perigo, o “terror noturno” percorre a espinha, mas a escuridão do vale não nos permite saber de onde virá “a peste que se propaga nas trevas” (Sl 91.5a, 6a). Essa desorientação, somada ao terror, produz uma angústia profunda na alma, de tal intensidade que chega-se a senti-la fisicamente. O vale é um lugar terrível como a morte; um lugar sem saída, um caminho sombrio por onde ninguém neste mundo gostaria de passar. Mas todos passam.

Contudo, para os que pela fé em Cristo se tornaram “o seu povo e rebanho do seu pastoreio” (Sl 100.3b), há paz, segurança e consolo no vale. O “Supremo Pastor” está conosco no vale, e não está de mãos vazias. Sua vara e seu cajado são a garantia de que não morreremos no vale. Primeiro porque, assim como o pastor batia amorosamente na ovelha prestes a se desgarrar, a fim de trazê-la de volta, o Senhor nos disciplina no vale quando nosso desespero e incredulidade nos levam a procurar caminhos que, longe de nos tirar do vale, levar-nos-iam à destruição. Em segundo lugar, com uma das suas extremidades pontiagudas, o pastor a usava para afugentar predadores prestes a devorar a ovelha desavisada. Do mesmo modo, nosso Supremo Pastor nos protege em nossa fragilidade exposta no vale, a fim de que o inimigo de nossas almas não nos toque (1 Jo 3.18). Na outra mão trazia o pastor o cajado, cuja ponta arqueada era usada para puxar a ovelha pela perna ou pelo pescoço para junto de si, ou para junto do rebanho. A vara só era usada quando a ovelha resistia à tração do cajado. Não há consolo maior do que quando, sufocados pela escuridão sombria do vale, somos “puxados” pelo Senhor para junto dele e trazidos de volta do pesadelo da solidão à realidade de sua companhia sustentadora. “Vara” e “cajado” são figuras que nos lembram que, na comunhão do Senhor, teremos disciplina, proteção, direção e segurança no vale. À luz da totalidade da revelação, ficamos sabendo, ainda, que o nosso Bom Pastor tanto nos amou que passou ele mesmo pelo vale e bebeu, em nosso lugar, o cálice da morte. Ali naquela cruz ele desceu o mais profundo dos vales, recebendo sobre si “o castigo que nos traz a paz” (Is 53.5). "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca" (Isaías 53:7).

Não podemos evitar o vale. Contudo podemos desfrutar da segurança e do consolo do Senhor Jesus. Por isso, podemos cantar no vale: “O Senhor é meu pastor nada me faltará”. Pois em cada experiência de perda, angústia, tristeza, opressão, fraqueza e humilhação que passarmos neste mundo, a vara e o cajado do Bom Pastor nos assegurarão de que quer caminhemos “por sobre os montes”, quer passemos “pelos vales” estaremos “sempre na luz”. Diante dessas verdades, podemos afirmar confiadamente, mesmo que passemos pelo vale: “Bondade e misericórdia me (per)seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre”! Amém!  

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