segunda-feira, 22 de outubro de 2012

PEDRAS E VIDRAÇAS


«Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra». Jo 8:7

A maioria das pessoas conhece a frase acima e a usa, especialmente quando é a seu favor. Algumas usam do modo certo, outras com uma interpretação equivocada. A frase foi falada por Jesus a um grupo de escribas e fariseus que haviam trazido à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e estavam prestes a matá-la a pedradas. Eles fizeram-na ficar em pé, no meio de todos, expondo-a à vergonha (Jo 8.3). A lei de Moisés sentenciava os adúlteros à morte (Lv 20.10; Dt 22.22-24). Eles citam a lei, perguntando a Jesus qual sua opinião. Sua intenção clara não era glorificar a Deus, mas tentar Jesus para ter do que o acusar (8.6). E, depois de muita insistência da parte deles, Jesus lhes responde com as palavras acima grafadas.
A resposta de Jesus indica que ele não considerava o adultério coisa de somenos. Ele não questiona a lei. Não fala nada que sequer insinue a inocência da mulher ou que negue a gravidade do pecado. Ele sabia e concordava com sua própria palavra, que «o que adultera com uma mulher está fora de si» (Pv 6.32) e que o adúltero «achará açoites e infâmia e o seu opróbrio nunca se a pagará» (Pv 6.33). Também não estava o Senhor sugerindo que este pecado hediondo não deveria ser julgado e  punido com rigor. Ele mesmo estipulou os procedimentos a serem adotados pela igreja quando alguém peca, dando à igreja autoridade para atar e desatar (Mt 19.15-20).
Em primeiro lugar, o que Jesus quer dizer quando fala: «Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra» é que quem acusa o faltoso precisa ter coerência. Não pode querer tirar o cisco do olho do irmão quando tem uma trave no seu próprio olho (Mt 7.1-5). Quem quer tratar do pecado precisa começar com a própria vida. Sem coerência, ninguém tem autoridade para julgar. Foi por falta de coerência entre a pregação e a vida que os escribas e fariseus se retiraram (8.9).
Em segundo lugar, as palavras de Jesus significam que quem acusa o faltoso precisa fazê-lo com temor e tremor. É necessário o acusador ter em mente que é um réu justificado pela graça, um pecador tratando com pecadores. A frase «Aquele que dentre vós estiver sem pecado...», faz-nos lembrados de que, perante Deus, «não há justo, nem sequer um» (Rm 3.10), «porque todos pecaram e carecem da glória de Deus» (Rm 3.23). Por isso, toda disciplina deve ser ministrada com espírito de brandura e com a consciência do perigo da própria queda (Gl 6.1).
Em terceiro lugar, Jesus quer nos ensinar que quem acusa o faltoso deve fazê-lo com espírito de perdão. O próprio Jesus declara o perdão à mulher, quando diz: «Nem eu tampouco te condeno», embora a tenha advertido quanto aos frutos do arrependimento: «Vai e não peques mais». A igreja só tem o direito de rejeitar o faltoso como gentio e publicano se ele permanecer incorrigível e contumaz (Mt 18.17). Diante dessas verdades, podemos entender porque a palavra de Deus nos recomenda: «Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado» (Gl 6.1). Por que hoje você é a pedra. Amanhã, pode ser a vidraça.

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