quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DUAS RELIGIÕES, DOIS DESTINOS

Todos sabemos que o termo “religião” significa religar, numa alusão à necessidade do homem se reconciliar com a divindade, restabelecendo com ela um relacionamento correto, um relacionamento pactual de comunhão. Por causa deste conceito já embutido em nossa mente, muita gente pensa que toda religião agrada a Deus e pode estabelecer com ele uma relação de comunhão. Mas este pensamento, embasado na idéia de que “todo caminho dá na venda”, não se sustenta à luz das Escrituras. Na verdade, se analisarmos com atenção, embora haja muitas religiões no mundo, na essência só há dois modelos de espiritualidade. E ambos os caminhos levam a destinos opostos. Quando olhamos, por exemplo, para dois capítulos da Bíblia, Gênesis 11 e 12, torna-se claro que nem toda religião leva a Deus, e nem toda espiritualidade o agrada. Esses capítulos apresentam-nos dois tipos de religião, dois modelos de espiritualidade, representados por duas cidades: Babilônia (Gn 11) e Jerusalém (Gn 12). O desdobramento desses dois modelos vai descortinando-os à medida que a revelação bíblica avança. Babilônia é uma variação linguística de Babel (11.9). Originalmente, o termo vem do hebraico bab-el, significando “portal de Deus”, sugerindo-nos um empreendimento de natureza político-religiosa, uma tentativa de alcançar os céus com um sistema de culto (Gn 11.5). O termo hebraico, por sua vez, deriva do acadiano bab-ili, cujo plural é bab-ilani, daí o equivalente em português “Babilônia”, que doravante passarei a usar. Jerusalém, a “casa da paz”, está presente em semente na pessoa de Abraão (Gn 12), pai da nação santa, da qual viria o Salvador.
Babilônia é a religião reprovada por Deus e cujo projeto fracassa (Gn 11.8). Jerusalém, a que agrada a Deus e triunfa. Não estou me referindo ao aspecto físico, até por que hoje Babilônia já não existe como cidade e a Jerusalém atual está longe do Senhor que outrora adorava, por ter rejeitado o Messias. Refiro-me ao modelo espiritual que cada uma representa na Bíblia. Quando relacionamos as duas religiões, verificamos o porquê dos dois destinos diferentes. Como veremos, Babilônia representa um modelo de espiritualidade humanista. Jerusalém, por sua vez, aponta-nos o padrão de uma piedade teocêntrica. Vemos o contraste em vários aspectos:
1)      Babilônia nasce da mentalidade e da iniciativa humanas: “E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos... Vinde, edifiquemos...” (11.3,4a). Revela-se, portanto, fruto de “particular elucidação”, produto da mente humana corrompida pela queda. Jerusalém, por sua vez, nasce inteiramente da iniciativa e chamado divinos (Disse o Senhor a Abrão: sai da tua terra... apareceu o Senhor a Abrão e lhe disse...” (Gn 12.1,7a). É produto de revelação.

2)      Babilônia é um empreendimento que confia nos recursos humanos: “façamos tijolos e queimemo-los bem queimados” (Gn 11.3a). Não é uma religião que confia em Deus e reconhece sua própria fraqueza. Antes, sua pretensão é de chegar “até aos céus” usando material perecível e tocar o divino com material provisório. Jerusalém, ao contrário, sustenta-se nas promessas de Deus: “... de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra... darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao Senhor que lhe aparecera... Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça (Gn 12.2-3, 7b; 15.6).

3)      Babilônia é espiritualidade motivada pela busca da glória do homem: “edifiquemos para nós uma cidade e uma torre... e tornemos célebre o nosso nome...” (Gn 11.4b). A imponência de uma cidade portentosa com uma torre elevada celebraria a glória de um império fundado pela bravura e valentia de um homem cujo projeto de poder é manter a raça sob seu domínio. Refiro-me a Ninrode, o fundador de Babel (Gn 10.8-12). A torre de Babel é, portanto, o símbolo de sua glória e força, da qual hoje só temos as ruínas. Jerusalém, em contrapartida, focaliza-se na glória de Deus e em proclamar seu nome entre homens idólatras: “...Ali edificou Abrão um altar ao Senhor que lhe aparecera...ali edificou um altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor (Gn 12.7b,8b). No meio dos altares idólatras sob a sombra do carvalho sagrado de Moré, Abraão proclama o nome do Senhor.

4)      Babilônia desenvolve-se segundo as pretensões do homem, em rebeldia à ordem do Senhor. Deus havia abençoado os homens com uma ordem: “crescei, multiplicai-vos, enchei a terra.” (Gn 1.28; 9.1,7). Seu propósito era que os homens povoassem a terra e cumprissem os mandatos do pacto, desenvolvendo a cultura e a civilização por meio de uma sociedade harmoniosa. Mas Babilônia rebela-se contra este propósito divino. Seu objetivo é declarado: “... para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4c). O próprio nome pelo qual o fundador de Babilônia é conhecido na Bíblia denuncia esta pretensão. Ninrode significa “vamos nos rebelar”. Em oposição, Jerusalém desenvolve-se segundo a direção de Deus. Peregrina sob sua orientação, ainda que no momento da partida não saiba que percalços estavam por vir na caminhada: Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o Senhor”: Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador.” (Hb 11.8-10).

5)      Não é de admirar que Babilônia tenha desagradado a Deus e se revele um duplo fracasso: “Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade”. As ruínas atuais da Babilônia são uma antecipação profética do fracasso final da religião pagã que ela incorporava, fracasso celebrado pelo anjo em Apocalipse: “Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável,  pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição... Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou... porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou... Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo... Ai! Ai da grande cidade, que estava vestida de linho finíssimo, de púrpura, e de escarlata, adornada de ouro, e de pedras preciosas, e de pérolas, porque, em uma só hora, ficou devastada tamanha riqueza! ... Ai! Ai da grande cidade, na qual se enriqueceram todos os que possuíam navios no mar, à custa da sua opulência, porque, em uma só hora, foi devastada! Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa... Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada.” (ver Ap 18).  Mas Jerusalém, redimida pelo sangue do Cordeiro, é por ele desposada, para ser santuário de Deus e seu povo particular, vivendo nos novos céus e a nova terra nos quais habita justiça: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap 21.1-4). Qual desses modelos de espiritualidade você segue?




terça-feira, 28 de junho de 2011

Oração ao deus da Teologia Relacional

Querido deus[1]: Acho que o senhor já sabe o que descobri recentemente: estou com câncer! Mas, não se preocupe, ainda estou relativamente bem, embora eu não saiba como vou ficar nos próximos dias (é uma pena que o senhor também não saiba!). Às vezes penso que ficaria melhor se o senhor não tivesse se autolimitado e aberto mão de sua onisciência e de sua presença soberana no mundo. Assim, mesmo que o senhor não me revelasse o que iria acontecer comigo, traria tranqüilidade ao meu coração saber que está no controle, que os seus olhos “me viram a substância ainda informe”, e que no seu livro “foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda”, como está escrito no Salmo 139.6. Aliás, não sei mais o que fazer com este versículo, como devo entendê-lo à luz do que o meu pastor começou a ensinar recentemente, a saber, que o senhor não tem o controle da minha vida e do meu futuro, porque “se retirou” da existência para dar autonomia aos homens. Como poderei agora dizer “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra”? (Sl 73:25).  Além disso, não posso negar que seria um bálsamo neste momento de incertezas saber que esta doença, assim como todas as outras coisas que me acontecem, coopera para o meu bem (Rm 8.28). Mas, se o senhor não sabe o que vai acontecer amanhã, como poderá me garantir que tudo isto me trará algum benefício? Resta-me agora confiar nos médicos e ter alguma esperança de cura. Afinal, eles têm alguma idéia das minhas chances a partir da lei da probabilidade e das conquistas da ciência.

A verdade, meu deus (não quero enganá-lo), é que não está nada fácil. Tenho chorado na sua presença (ou seria ausência?) e sei que o senhor chora comigo, pois o senhor me ama. De fato, eu pensei seriamente em poupá-lo de mais preocupações, afinal, tem tanta catástrofe de proporções espantosas lhe assustando por aí que, por algum tempo, abstive-me de incomodá-lo. Deus, tentei me consolar pensando no final dos tempos e na vinda de Jesus, que destruirá este mundo e fará novos céus e nova terra. Tenho a promessa de que, naquele dia, meu corpo ressuscitará incorruptível e estarei para sempre em sua presença. Contudo, algumas dúvidas passaram a me perturbar, traindo minha esperança e subtraindo meu consolo. Uma delas é a seguinte: Se o senhor não tem o controle dos acontecimentos, como poderá garantir que a esperança da vinda de Cristo se cumpra no tempo oportuno? E como entender as palavras de Jesus quando disse: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai”? (Mt 24:36). Tentando entender estas coisas ocorreu-me que talvez o senhor só tenha se autolimitado em seu conhecimento dos fatos do cotidiano e do tempo presente, não se aplicando tal limitação à era vindoura e à vinda de Cristo. Entretanto, o fim desta era e o início da era vindoura não ocorrerão no crisol da história presente por uma convergência de eventos que precipitarão o “tempo oportuno”? Mas como isto poderá acontecer se estás “epistemicamente ausente”[2] ? Tais dúvidas fazem minha esperança evaporar-se como a neblina. Só meditar tais coisas já era tarefa pesada para mim. Todavia, como se não bastasse, no último domingo meu pastor pregou sobre a vinda de Cristo e disse que tal evento era apenas uma utopia, que servia somente como “força motivadora, uma esperança que me mobiliza para a ação”[3]. Até agora, com o câncer me corroendo o corpo e a morte se avizinhando, pergunto-me: ação para que direção? Para uma atitude estóica que espera de cabeça erguida inflexivelmente o fim? Eu preferia esperar radiantemente a aurora, como meu pastor já ensinou um dia.

Dessa forma, deus querido, fico apenas com o consolo de saber que o senhor está sofrendo junto comigo, refazendo-se da surpresa que também me deixou estupefato. De certa forma, consola-me um pouco pensar que seu sofrimento é maior porque, sendo deus e, por definição, tendo o poder para fazer algo a respeito da minha e de outras mazelas, o senhor abriu mão de tal controle, bem como de sua presença soberana, por amor. Um amor que se distancia e se ausenta para me deixar mais livre... Confesso ser mais difícil para mim entender e aceitar que o senhor se mantém no mundo (e, consequentemente, em minha vida) “sob a forma da ausência, do segredo, da retirada, como a pegada deixada na areia, na maré baixa, por um passeante desaparecido, única a atestar, mas por um vazio, sua existência e seu desaparecimento…”[4]. Sei que o senhor faz isto para me dar autonomia. Mas é duro... Se me permite o irreverente antropomorfismo, posso imaginá-lo arregalando os olhos, mordendo os lábios e apertando as mãos diante de tantas tragédias a surpreendê-lo, sem interferir, para não anular a autonomia humana. Enfim, encerro aqui minha oração, na expectativa de que o meu caso tenha solução, ou, pelo menos, traga-me crescimento espiritual. É isto o que tão somente lhe peço, embora eu não saiba como o senhor poderá operar no meu interior através de acontecimentos sobre os quais não tem controle, pois algum fato inesperado poderá pôr tudo a perder. Afinal de contas, sei que sou barro em suas mãos e que o senhor é um oleiro habilidoso, mas quem me garante que o torno não vai quebrar? Amém!


[1] Esta é uma oração fictícia. As palavras “deus” e “senhor” são escritas com iniciais minúsculas, exceto onde a pontuação não o permite, porque creio que o deus propagado pela teologia relacional, a quem a oração é dirigida, certamente não é o mesmo Deus das Escrituras, que é vivo, soberano, único e verdadeiro. Antes, o deus criado pela teologia relacional não passa de um demiurgo.
[2] GONDIM, Ricardo. Teologia relacional: que bicho é esse? http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=61&sg=0&id=1417
[3] Idem. Encontro de Pastores da Igreja Betesda. 2º Dia. Fortaleza-CE 24/03/11. Palestra disponível em http://www.youtube.com/watch?v=ihP-U4q53eY&feature=player_embedded#at=105

[4] Idem. Teologia relacional: que bicho é esse?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cristianismo e Homossexualismo: Conciliação Possível?

Algumas pessoas que se intitulam cristãs são favoráveis às uniões homoafetivas. Há até um movimento intitulado Movimento Gay Cristão e existem igrejas “evangélicas”, inclusive presbiterianas – não vinculadas à IPB – que têm gays entre seus membros e pastores. Será que é possível ser cristão e aprovar a prática do homossexualismo? Tanto a evidência histórica quanto a bíblica mostram que não. Vejamos:

A Evidência Histórica – Segundo Joe Dallas, “a aceitação do homossexualismo é bem documentada. Nos últimos 2.000 anos, de pensamento ocidental, em termos gerais ele foi rejeitado”[1]. Podemos ter uma idéia da aceitação geral do homossexualismo pelo menos no mundo ocidental antigo antes da expansão do cristianismo através de William Barclay[2]. Segundo ele, o homossexualismo era praticado tanto pela nobreza como pelas classes baixas. Para citar alguns exemplos da 1ª classe, o Simpósio, de Platão considerado uma das grandes obras de literatura, exalta o amor homossexual. Nessa obra, Fedro fala: “não conheço qualquer bênção maior para um jovem que está principiando a vida do que um amante virtuoso, ou, para o amante, do que um menino querido”. Outra observação de Barclay é que, dos 15 primeiros imperadores, só Cláudio não tinha relacionamentos homossexuais. Júlio César, por exemplo, era amante do rei Nicômedes, da Bítinia, conhecido como “rival da rainha”. Suetônio, antigo historiador citado pelo mesmo autor, descreve o “casamento” de Nero com um jovem escravo castrado, chegando a desfilar com ele pelas ruas de Roma em cortejo nupcial. Ainda no antigo mundo Greco-romano, eram comuns os “efebos”, adolescentes do sexo masculino, entre os 16 e 20 anos, que serviam sexualmente a um senhor e/ou mestre. Um senhor poderia, se quisesse, além da esposa e de concubinas, possuir um ou mais efebos, a quem educava e de quem se servia sexualmente. Desse modo, a bissexualidade era vista como padrão para a época, até mesmo no meio militar. O homossexualismo nunca deixou de existir, mas é indisputável o fato de que, a partir de uma certa época até séculos recentes, tal estilo de vida entrou para a marginalidade diante da sociedade. O que levou o mundo ocidental a rejeitar o homossexualismo? Não há dúvidas de que foi a expansão do cristianismo, bem como a influência das Escrituras judaico-cristãs na configuração da cultura e da moral ocidental que promoveram tal rejeição. A pregação cristã combateu implacavelmente a imoralidade Greco-romana em todas as suas manifestações, sejam homo, bi ou heterossexuais.


A Evidência Bíblica O Antigo Testamento: em Gn 1.26,27, a palavra de Deus diz que Deus criou o homem à sua imagem, “à imagem de Deus os criou macho e fêmea os criou”. Esta é a tradução literal do hebraico. Em Lv 18.22, 24, está escrito: Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação... Com nenhuma destas coisas vos contaminareis, porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu lanço de diante de vós”. Este tipo de relação entre os israelitas era inconcebível e a Lei o proibia terminantemente. O Novo Testamento igualmente mostra a prática homossexual como característica de um mundo sob a ira de Deus, e como consequência da rejeição do conhecimento de Deus. Em Rm 1.24-27, Paulo denuncia: Por isso (por haverem desprezado o conhecimento de Deus), Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, macho com macho, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro”. (Esta é a tradução correta do grego). Nesse mesmo capítulo, a prática homossexual está entre outros pecados, fazendo parte de uma lista extensa (ver vv. 28-32). Em 1Co 6.12-20, Paulo ainda afirma que esta, entre outras práticas pecaminosas, é característica daqueles que não hão de herdar o reino de Deus, sendo que alguns cristãos coríntios haviam sido resgatados de tal estilo de vida. O conceito bíblico de “prostituição” inclui a prática homossexual.

Estou trazendo esses dados históricos e bíblicos para mostrar que tanto a evidência histórica quanto a bíblica nos mostram irrefutavelmente dois fatos: Primeiro, as evidências mostram que é uma falácia dizer que o atual cristianismo é antiquado, que fala de uma moral pertencente ao passado, “quando o mundo era habitado por pessoas primitivas, ignorantes e ingênuas”. Não! Toda sorte de perversões sexuais é tão antiga quanto a queda do homem. A Grécia antiga ainda permanece sendo um referencial do conhecimento e humano e as práticas em questão tinham sua chancela. Quando o evangelho se fez conhecido, já naquela época, a mensagem não se adequou à moral Greco-romana, antes a confrontou, ao mesmo tempo em que ofereceu o amor perdoador e transformador de Deus na obra de Cristo a todo aquele que quisesse abandonar os velhos hábitos. Por isso, o que na mensagem cristã valia para o mundo antigo vale também para hoje. A lei de Deus não afrouxou, só porque o homem progrediu tecnologicamente, pois, apesar de ter se desenvolvido no conhecimento, moral e espiritualmente continua tão corrompido e depravado quanto nos tempos antigos. Aliás, mais corrompido, porque agora tem novas tecnologias para usar em suas práticas pecaminosas, autenticadas pela bandeira da “inclusão” e do “politicamente correto".  Em segundo lugar, as evidências acima demonstram que não é possível alguém aprovar a prática homossexual e ser cristão. A pessoa pode até dizer que a moral cristã é ultrapassada ou que o cristianismo é homofóbico, posto que esta seja uma afirmação falsa e preconceituosa. Pode dizer-se anticristão e decretar a “morte” do cristianismo – ainda que isto não vá se cumprir – mas, decididamente, não pode dizer que aprova tais práticas e chamar-se de cristã. Se aprova, deve assumir que é tudo menos um cristão. Se alguém quiser aceitar as uniões homoafetivas como moralmente inócuas, deve, em nome da coerência, rejeitar o cristianismo. O inverso também é verdade. Se alguém quer seguir a Cristo, não pode se colocar favorável a esta nem a qualquer outra prática condenada pelas Escrituras. Por isso, quem se diz cristão, evangélico, e até reformado e, ao mesmo tempo, manifesta-se favorável à prática homossexual, maior pecado tem do que os que rejeitam abertamente o cristianismo. Nesta perspectiva, creio não estar errado em dizer que menos rigor haverá no dia do juízo para os homossexuais que se declaram ateus ou que rejeitam sincera e coerentemente o cristianismo do que para aqueles que, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos”. (2 Pe 2:20). Esses falsos cristãos deveriam ser ao menos coerentes. SEJA DEUS VERDADEIRO, E MENTIROSO, TODO HOMEM!” (Rm 3.4).



[1] DALLAS, Joe. A operação do erro: o movimento “gay cristão”. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
[2] BARCLAY, William. As obras da carne e o fruto do Espírito. São Paulo: Vida Nova, 1985.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os Ministros do Autêntico Evangelho


Em artigo anterior apresentei, baseado em 2 Coríntios, um retrato dos “superapóstolos” que – ontem e hoje – adulteram o autêntico evangelho para se locupletar às custas de almas crédulas e ingênuas que se deixam enredar pela farsa deles. Com base na mesma epístola quero apresentar, em contrapartida, um retrato dos ministros do autêntico evangelho. Pois, ao responder aos seus detratores, Paulo se contrapõe a eles, mostrando-se como verdadeiro servidor de Jesus Cristo e autêntico anunciador do evangelho. Na epístola em questão, portanto, Paulo e seus adversários representam emblematicamente dois modelos opostos de ministério: um, do orgulhoso exibicionista que ostenta e exibe a si mesmo, alegando qualidades extraordinárias e superioridade religiosa; e outro, do humilde servo sustentado e capacitado pela graça de Deus. Em várias ocasiões na epístola, o apóstolo usa o “nós” apostólico, demonstrando que não fala apenas de si mesmo, mas de todos aqueles que seguem o mesmo modelo de ministério que ele. Vejamos, então, as características dos ministros do autêntico evangelho.

1)      Sua autoridade não repousa em ações externas extraordinárias, mas no poder de Deus agindo em sua fraqueza. É isto que Paulo diz, por exemplo, em 6.4-5: Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,. Embora tivesse as credenciais do apostolado (12.12), não era nessas manifestações extraordinárias que o apóstolo se gloriava, mas no poder de Deus agindo em sua fraqueza. Ele deixa isto claro antes de mencionar as credenciais do apostolado, quando diz, nos versículos anteriores do mesmo capítulo: Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (12.9-10). E, novamente, em outro lugar: “Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus (13.4). Assim são os ministros do autêntico evangelho. Mesmo quando, pela providência especial de Deus, experimentam as intervenções extraordinárias do Senhor em seu ministério, eles não se utilizam disso como argumento de autoridade ou instrumento de domínio. Pois sabem que são nada mais do que vasos de barro levando os tesouros da graça (4.5-12). A atuação ministerial dos ministros do autêntico evangelho repousa sobre a teologia da cruz e não sobre a teologia do milagre.

2)      Eles não são senhores, mas escravos do rebanho por amor de Jesus Cristo. Eles podem afirmar com Paulo: Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus” (4.5). Enquanto os “superapóstolos” se aproveitam de sua posição para escravizar, devorar, capturar, exaltar-se sobre seus seguidores e esbofetear-lhes o rosto, os ministros do autêntico evangelho querem se gastar em prol da alma do rebanho de Deus (12.15). Estes conhecem e seguem o ensino e exemplo de seu Senhor e Mestre: “...Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve (Lc 22:25-27). Por se saberem servos, mesmo entristecidos, os ministros do autêntico evangelho estão sempre alegres; mesmo pobres, eles enriquecem a muitos; mesmo nada tendo, eles possuem tudo (2 Co 6.10).

3)      Eles não medem o sucesso pelos resultados, mas pela fidelidade a Deus e à sua palavra. Os ministros do autêntico evangelho têm consciência da dupla função do evangelho, que é tanto de juízo – “cheiro de morte para morte” – como de salvação – “aroma de vida para vida” (2.16). Por conseguinte, eles não precisam adulterar as Escrituras para encaixar-se às expectativas dos ouvintes. Além disso, eles sabem que quando pregam a palavra, estão diante de Deus e de Cristo (2.17) a quem terão de prestar contas, como lembra Paulo em outro lugar: “...importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (5.10).

4)      As verdadeiras marcas do seu ministério não são os feitos extraordinários, mas a transformação do caráter dos fiéis e o compartilhamento dos sofrimentos de Cristo. A vida transformada dos cristãos é a carta de recomendação do verdadeiro ministro de Cristo, como ressalta Paulo: Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”(3.2-3). Além das vidas transformadas, os sofrimentos peculiares ao ministério são marcas que identificam os ministros do autêntico evangelho com seu Senhor: levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” (4.11-12 – ver também 11.23-28). Ao fazer tais observações Paulo não queria dizer que não tivesse recomendações (3.2-3), conhecimento (11.6) ou autoridade (11.20-21; 13.10). Nem que não havia recebido visões e revelações do Senhor (12.1ss); tampouco queria o apóstolo dizer que não havia realizado os sinais próprios do apostolado (12.11-13). Mas, em última instância, sua autenticidade não repousava nessas coisas, mas na sua identificação com Cristo crucificado e na transformação daqueles que vieram a crer por intermédio do seu ministério. Isto é um modelo para os ministros do autêntico evangelho.

5)      Eles não se importam com a popularidade, porque sabem estar vivendo sob o auditório de Um Só. Tomo aqui emprestada a expressão de Os Guiness, quando ele acertadamente observa: “a maioria de nós, quer estejamos ou não cônscios disso, fazemos as coisas com o olho na aprovação de algum auditório. A questão não é se temos um auditório, mas qual o auditório, qual o ouvinte, que temos... Uma vida vivida ouvindo o chamado decisivo de Deus é uma vida vivida perante um auditório que está acima de todos os demais: o auditório de Um só.” Os ministros do autêntico evangelho têm consciência dessa verdade. Por isso, eles rejeitam as coisas vergonhosas que os “superapóstolos” fazem em oculto e tremem diante da idéia de adulterar a palavra de Deus (4.2). Além disso, vivendo pela fé e não pelo que vêem, eles não almejam a glória espetacular e temporária dos homens, que seca como a erva e murcha como a flor, mas esperam a glória invisível e permanente de Deus, pois sabem que as coisas que se vêem são temporais, mas as que se vêem são eternas (4.16-18).

O povo de Deus precisa aprender a distinguir os superapóstolos dos ministros do autêntico evangelho. Isto para que não sejam levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14) e para que, reconhecendo os ministros do autêntico evangelho, aprendam a honrar seu ministério e seguir seu modelo de vida. Pois, assim nos recomenda a Escritura: “Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus”. Soli Deo gloria!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Os "Superapóstolos" - Ontem e Hoje

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Como disse o outro pregador – o inspirado – “nada há novo debaixo do sol” (Ec 1.9b). Embora em seu contexto original a frase expresse a mesmice da vida neste mundo e a frustração que ele nos traz em si mesmo devido à queda, ela me faz lembrar também que, como tudo o mais neste mundo, velhas heresias e antigos hereges renascem de tempos em tempos. Analisando a 2ª Epístola de Paulo aos Coríntios, verifico que a descrição que ele faz dos “superapóstolos” de sua época encaixa-se como uma luva em muitos líderes de hoje. Observemos o conteúdo da carta:
Contexto: A epístola é, em grande parte, uma defesa do apostolado de Paulo perante alguns obreiros que, tendo chegado a Corinto, atacaram o ensino e o caráter do apóstolo, levando a igreja a renegar o seu fundador. Eles questionavam a legitimidade do ministério apostólico de Paulo. Encontraram campo fértil numa igreja ressentida com a reprimenda do seu pai espiritual e com alguns desencontros que ele procura explicar (2.13-24).  O ataque a Paulo se deu em duas etapas: (1) Nos caps. 1-7, há uma oposição individual alimentada e fortalecida por uma onda de crítica sutilmente levantada pelos líderes recém-chegados; (2) nos caps. 10-13, a oposição é aberta, obrigando o apóstolo a uma postura mais enérgica. Algumas de suas acusações eram de que Paulo era: (1) audacioso por meio de suas cartas, mas inócuo e desprezível quando presente (10.1, 9-10); (2) desprovido de sinais de autoridade espiritual e atitudes enganosas (10.2); (3) sem eloquência e entusiasmo em sua pregação (11.5-6); e (4) possivelmente sem amor pelos coríntios, uma vez que não aceitara deles ajuda financeira, ao mesmo tempo em que, segundo eles estaria usando mensageiros para extrair sutilmente maior quantia de dinheiro, pela manobra de ofertas especiais (11.7-11; 12.14-18). Em sua defesa, Paulo compara seu ministério com o de seus detratores, estabelecendo alguns contrastes entre ele e esses “obreiros fraudulentos”. Com base nesta comparação, analisemos o que Paulo fala sobre seus opositores e vejamos se o “rosto na foto” não é do superapóstolo do século 21 “entalhado e esculpido”:

1)      Os “superapóstolos” pregam a si mesmos e não a Jesus Cristo. Por isso, contrastando-os consigo e com os verdadeiros apóstolos, Paulo ressalta: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus” (4.5). Os superapóstolos, ao contrário, sempre se ostentam a si próprios. Eles “se gloriam na aparência e não no coração” (5.12). Para dar crédito à sua mensagem, os obreiros fraudulentos enfrentados por Paulo apresentavam-se como “homens divinos”, dotados de poder sobrenatural. O evangelho que pregavam era o da autopromoção. Nos caps. 10-13, na defesa de Paulo encontramos subentendidas as ênfases, dadas pelos falsos apóstolos, na eloquência (11.6); na exibição de autoridade (11.20); em visões e revelações (12.1); e na execução de sinais “apostólicos” (12.12-13). Portanto, podemos dizer que os falsos apóstolos enfrentados por Paulo apelavam para manifestações extraordinárias do Espírito (12.1) e para milagres, manifestações atraentes ao mundo pagão de língua grega. Eles exibiam orgulhosamente supostas experiências sobrenaturais. A soberba deles obrigou Paulo a declarar: Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos (11.5); Tenho-me tornado insensato; a isto me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós; porquanto em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou” (12.11). A expressão em destaque, “tais apóstolos”, traduz um termo grego que expressa excepcionalidade, significando algo como “superapóstolos”. Assim a traduzem a NVI, nos dois versículos, e a BLH, no último – daí, o título deste artigo. Portanto, os oponentes de Paulo consideravam-se e apresentavam-se como superapóstolos, figuras religiosas excepcionais, capazes de explosões carismáticas e miraculosas. Sua personalidade extraordinária era a real garantia da mensagem pregada. Pense comigo: não é esta uma figura atual? Não continuam os superapóstolos entre nós, pregando-se a si mesmos e erguendo ministérios personalistas para se autopromover, exibindo alegadas manifestações miraculosas, enquanto afirmam soberbamente que “é só aqui que isto acontece” e que “a mão de Deus está aqui”, num verdadeiro “show da fé”? Não prometem eles que, sob sua ordem, ou ao toque de objetos por eles ungidos, “o mal vai embora”?

2)      O rosto piedoso dos “superapóstolos” esconde um coração fraudulento. Depois de chamar ironicamente seus opositores de “superapóstolos”, Paulo denuncia seu verdadeiro caráter: na verdade, não passam de pseudoapóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo”. Sim, os “superapóstolos” têm linguagem e personalidade atraentes. Como diz Paulo em outro lugar, acerca do mundo sem Deus, “com a língua, urdem engano” (Rm 3.13). Mas eles têm apenas a aparência de apóstolo. “transformar”, em 11.13-15, tem o sentido de uma mudança externa. Tal aparência de piedade não passa de uma máscara para esconder as coisas vergonhosas que praticam (4.2). Desse modo, os superapóstolos – ontem e hoje – “se gloriam na aparência e não no coração” (5.12). Não se engane, hoje eles ainda têm cara de ovelha, mas continuam lobos roubadores; ainda andam travestidos de apóstolos, mas continuam obreiros fraudulentos. Eles jejuam e oram, fazem penitência, sobem ao monte, mergulham no rio, benzem objetos, tudo para parecer piedosos.  Em nossos dias, os “superapóstolos” também manifestam uma piedade farisaica. É contra eles que o Senhor Jesus fala na Escritura: “Ai de vós... hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo! (Mt 23.14)

3)      A dissimulação dos “superapóstolos” conquista até crentes verdadeiros. Possivelmente, os falsos apóstolos combatidos por Paulo chegaram em Corinto de posse de cartas de recomendação, credenciais conseguidas em outras igrejas. Ao que parece, eles criticavam Paulo por não possuir tais cartas (3.1). Tratava-se de um movimento estruturado e organizado de “missionários” cristãos, atuando no campo missionário paulino, sendo que as cartas de recomendação atestavam que eles tinham certa aprovação de crentes fiéis. Por isso, eles conseguiram arrebanhar seguidores entre os coríntios. Conheço crentes hoje que, não obstante creiam no genuíno evangelho, não conseguem perceber que o “evangelho” pregado pelos “superapóstolos” é radicalmente diferente da sã doutrina. Isto porque, no cesto de maçãs podres do pseudoevangelho que carregam, os “superapóstolos” colocam aqui e ali algum fruto bom. Refiro-me a princípios do evangelho da graça que, vez por outra, mencionam. Portanto, abra os olhos, não se deixe levar pela dissimulação dos “superapóstolos” do século 21.

4)      A atividade dos “superapóstolos” mina a autoridade e o ensino de ministros fiéis. Aos poucos, os obreiros fraudulentos esvaziaram a autoridade apostólica de Paulo perante os coríntios. A partir da defesa apresentada pelo apóstolo, podemos inferir que eles levantaram questionamentos do tipo: Como homens desprovidos de qualidades excepcionais, de força e glória sobrenaturais, pode representar o poderoso Deus? “Afinal, ele escreve bem, mas, pessoalmente é fraco, e sua palavra é desprezível” (10.10). Em contraste com essa postura ufanista, Paulo testifica: Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (12.10). Em nossos dias, os “superapóstolos” contam com o avanço dos meios de comunicação para “pular a cerca” e invadir a casa das ovelhas de ministros fiéis. Através do método da saturação eles criam dúvidas nos incautos, levando-os a questionar a autoridade de seus pastores. Precisamos ficar atentos a essa verdadeira “guerrilha televisiva” dos trambiqueiros do “superevangelho”.

5)      Os “superapóstolos” diluem o evangelho para atrair seguidores. Na epístola que examinamos, Paulo compara seus adversários com os maus filósofos itinerantes da época, que disseminavam doutrinas filosóficas com fins utilitaristas e personalistas. Os pseudoapóstolos “mercadejavam” a palavra de Deus – termo que significa “diluir”, “misturar”, como o vendedor ambulante que mistura água ao vinho, ou o feirante que esconde frutas ou legumes podres embaixo das frutas boas, que são colocadas na parte de cima da cesta, para enganar os compradores e aumentar os lucros. Eles falsificavam a palavra de Deus (4.2), ao ponto do evangelho por eles pregado ser diferente do anunciado por Paulo, e se beneficiavam dessa falsificação (11.4). Este “outro” evangelho negava a teologia da cruz. Assim são os atuais “superapóstolos” desse cristianismo de consumo que nos rodeia. Como o vendedor trambiqueiro, eles transformam o evangelho da graça numa sopa rala e vendem à gente crédula e incauta como se fosse alimento sólido. Mais do que isto, ele servem seu fast food cheio de substâncias nocivas à saúde espiritual. Não se deixe enganar. Como sabiamente observou Agostinho, “A sabedoria e a ignorância são como manjares, proveitosos ou nocivos, e as palavras, elegantes ou triviais, como pratos preciosos ou toscos, nos quais se podem servir ambos os manjares”.

6)      Os “superapóstolos” exercem influência escravizadora sobre os fiéis. Eles exercem uma liderança autoritária, praticando o “assédio espiritual”. Paulo repreendeu os coríntios por se deixarem escravizar pelos falsos apóstolos. Sua repreensão atravessa os séculos, sacudindo a igreja evangélica do século 21: Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto. (11.20). Como os falsos apóstolos em Corinto, os “superapóstolos” de hoje escravizam, tiram vantagens pessoais, usando e abusando da boa fé dos fiéis; eles “capturam” a fé em armadilhas místicas, e se exaltam sobre os fiéis, “esbofeteando” a piedade dos seus liderados.
Como esses orgulhosos exibicionistas, que ostentam a si mesmos são diferentes, em seu perfil, dos ministros do evangelho! É só prestar bem atenção e examiná-los com os óculos da Escritura para ver que, enquanto se apresentam travestidos de ministros de Cristo, os “superapóstolos” na verdade, são pseudoapóstolos, obreiros trambiqueiros, transformando-se exteriormente em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras (11.13-15).