quinta-feira, 9 de junho de 2011

Os Ministros do Autêntico Evangelho


Em artigo anterior apresentei, baseado em 2 Coríntios, um retrato dos “superapóstolos” que – ontem e hoje – adulteram o autêntico evangelho para se locupletar às custas de almas crédulas e ingênuas que se deixam enredar pela farsa deles. Com base na mesma epístola quero apresentar, em contrapartida, um retrato dos ministros do autêntico evangelho. Pois, ao responder aos seus detratores, Paulo se contrapõe a eles, mostrando-se como verdadeiro servidor de Jesus Cristo e autêntico anunciador do evangelho. Na epístola em questão, portanto, Paulo e seus adversários representam emblematicamente dois modelos opostos de ministério: um, do orgulhoso exibicionista que ostenta e exibe a si mesmo, alegando qualidades extraordinárias e superioridade religiosa; e outro, do humilde servo sustentado e capacitado pela graça de Deus. Em várias ocasiões na epístola, o apóstolo usa o “nós” apostólico, demonstrando que não fala apenas de si mesmo, mas de todos aqueles que seguem o mesmo modelo de ministério que ele. Vejamos, então, as características dos ministros do autêntico evangelho.

1)      Sua autoridade não repousa em ações externas extraordinárias, mas no poder de Deus agindo em sua fraqueza. É isto que Paulo diz, por exemplo, em 6.4-5: Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,. Embora tivesse as credenciais do apostolado (12.12), não era nessas manifestações extraordinárias que o apóstolo se gloriava, mas no poder de Deus agindo em sua fraqueza. Ele deixa isto claro antes de mencionar as credenciais do apostolado, quando diz, nos versículos anteriores do mesmo capítulo: Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (12.9-10). E, novamente, em outro lugar: “Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus (13.4). Assim são os ministros do autêntico evangelho. Mesmo quando, pela providência especial de Deus, experimentam as intervenções extraordinárias do Senhor em seu ministério, eles não se utilizam disso como argumento de autoridade ou instrumento de domínio. Pois sabem que são nada mais do que vasos de barro levando os tesouros da graça (4.5-12). A atuação ministerial dos ministros do autêntico evangelho repousa sobre a teologia da cruz e não sobre a teologia do milagre.

2)      Eles não são senhores, mas escravos do rebanho por amor de Jesus Cristo. Eles podem afirmar com Paulo: Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus” (4.5). Enquanto os “superapóstolos” se aproveitam de sua posição para escravizar, devorar, capturar, exaltar-se sobre seus seguidores e esbofetear-lhes o rosto, os ministros do autêntico evangelho querem se gastar em prol da alma do rebanho de Deus (12.15). Estes conhecem e seguem o ensino e exemplo de seu Senhor e Mestre: “...Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve (Lc 22:25-27). Por se saberem servos, mesmo entristecidos, os ministros do autêntico evangelho estão sempre alegres; mesmo pobres, eles enriquecem a muitos; mesmo nada tendo, eles possuem tudo (2 Co 6.10).

3)      Eles não medem o sucesso pelos resultados, mas pela fidelidade a Deus e à sua palavra. Os ministros do autêntico evangelho têm consciência da dupla função do evangelho, que é tanto de juízo – “cheiro de morte para morte” – como de salvação – “aroma de vida para vida” (2.16). Por conseguinte, eles não precisam adulterar as Escrituras para encaixar-se às expectativas dos ouvintes. Além disso, eles sabem que quando pregam a palavra, estão diante de Deus e de Cristo (2.17) a quem terão de prestar contas, como lembra Paulo em outro lugar: “...importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (5.10).

4)      As verdadeiras marcas do seu ministério não são os feitos extraordinários, mas a transformação do caráter dos fiéis e o compartilhamento dos sofrimentos de Cristo. A vida transformada dos cristãos é a carta de recomendação do verdadeiro ministro de Cristo, como ressalta Paulo: Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”(3.2-3). Além das vidas transformadas, os sofrimentos peculiares ao ministério são marcas que identificam os ministros do autêntico evangelho com seu Senhor: levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal” (4.11-12 – ver também 11.23-28). Ao fazer tais observações Paulo não queria dizer que não tivesse recomendações (3.2-3), conhecimento (11.6) ou autoridade (11.20-21; 13.10). Nem que não havia recebido visões e revelações do Senhor (12.1ss); tampouco queria o apóstolo dizer que não havia realizado os sinais próprios do apostolado (12.11-13). Mas, em última instância, sua autenticidade não repousava nessas coisas, mas na sua identificação com Cristo crucificado e na transformação daqueles que vieram a crer por intermédio do seu ministério. Isto é um modelo para os ministros do autêntico evangelho.

5)      Eles não se importam com a popularidade, porque sabem estar vivendo sob o auditório de Um Só. Tomo aqui emprestada a expressão de Os Guiness, quando ele acertadamente observa: “a maioria de nós, quer estejamos ou não cônscios disso, fazemos as coisas com o olho na aprovação de algum auditório. A questão não é se temos um auditório, mas qual o auditório, qual o ouvinte, que temos... Uma vida vivida ouvindo o chamado decisivo de Deus é uma vida vivida perante um auditório que está acima de todos os demais: o auditório de Um só.” Os ministros do autêntico evangelho têm consciência dessa verdade. Por isso, eles rejeitam as coisas vergonhosas que os “superapóstolos” fazem em oculto e tremem diante da idéia de adulterar a palavra de Deus (4.2). Além disso, vivendo pela fé e não pelo que vêem, eles não almejam a glória espetacular e temporária dos homens, que seca como a erva e murcha como a flor, mas esperam a glória invisível e permanente de Deus, pois sabem que as coisas que se vêem são temporais, mas as que se vêem são eternas (4.16-18).

O povo de Deus precisa aprender a distinguir os superapóstolos dos ministros do autêntico evangelho. Isto para que não sejam levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14) e para que, reconhecendo os ministros do autêntico evangelho, aprendam a honrar seu ministério e seguir seu modelo de vida. Pois, assim nos recomenda a Escritura: “Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus”. Soli Deo gloria!

6 comentários:

Samuel Vitalino disse...

Você é o cara.
Samuel Vitalino

Alfredo de Souza disse...

Excelente!

Heleno Filho disse...

Esta semana vi o Valdemiro Santigao dizendo algo mais ou menos assim: "você, que se diz teólogo, não me venha discutir sobre a Bíblia comigo sem ter um milagrezinho pra contar! Eu tenho é milagre!" E por aí foi. Ele sintetiza bem o descaso para com a Palavra alidado ao pragmatismo de nossos dias.
Que Deus nos dê coragem e fidelidade para sermos pastores com o perfil bíblico que você mostrou neste post. Com temor, graças a Deus os pastores do nosso presbitério estão todos perseguindo este caminho.
Abraços, Marcão!

Marcos Augusto disse...

Samuel, "convém que ele cresça e que eu diminua".
Abraços.

Marcos Augusto disse...

Obrigado, Alfredo.

Marcos Augusto disse...

Heleno, é isto o que os superapóstolos sempre dizem para minar a autoridade dos ministros do autêntico evangelho.
Abração.