domingo, 20 de abril de 2014

A CELEBRAÇÃO BÍBLICA DA PÁSCOA


“E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.  Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. (Lc 22:15, 19-20).

Entre o povo de Israel, a páscoa tem sido celebrada para relembrar a saída de Israel do Egito, ocasião em que a festa foi instituída (Êx 12). No meio cristão, a páscoa é a celebração da morte de Cristo, que trouxe libertação dos pecados a todos os que crêem na palavra da cruz. A libertação de Israel do Egito é um tipo, uma prefiguração da libertação que Cristo veio trazer por sua morte. De lá ( do Egito e do Calvário) para cá, em todas as nações cristãs e entre os judeus, cada um a seu modo, a páscoa é celebrada nestes dias. Ao redor do mundo, programações, atividades e rituais diversos são realizados com este objetivo. De lá para cá muita coisa se desvirtuou e o sentido da páscoa tem sido diluído, até mesmo no meio evangélico. A páscoa que o mundo comemora é a páscoa do coelhinho e dos ovos de chocolate; é a páscoa do Cristo moribundo, que morre toda sexta-feira da paixão e ressuscita todo domingo de Páscoa; é a páscoa dos auto-flagelamentos e do auto-sacrifício, com o objetivo de “identificar-se” com os sofrimentos de Cristo (Filipinas); a páscoa que o mundo celebra é a páscoa da abstenção de carne, também como um ato de “respeito” para com a morte de Cristo, ao contrário do contexto original, no qual os judeus celebravam comendo um carneiro assado; é a páscoa do “sábado de aleluia”, quando as pessoas se põem a beber e a farrear sem pensar no verdadeiro sentido da páscoa. E no meio evangélico – mas não apenas entre nós – é a páscoa das encenações das atividades evangelísticas e das cantatas que relembram os passos de Jesus através da crucificação até a ressurreição. No entanto, precisamos resgatar a perspectiva bíblica da celebração da páscoa. Os cristãos estão certos quando a ligam à morte redentora de Cristo e à libertação que ela traz aos que crêem, libertação prefigurada na Velha Aliança. Mas o que quero questionar aqui é a celebração da páscoa limitada a alguns dias no ano. Esta não é a genuína celebração da páscoa. Na Nova Aliança só nos são apresentadas duas maneiras de celebrar a páscoa:
O texto acima em destaque mostra que, durante a páscoa dos judeus, Jesus instituiu uma Nova Aliança. Ele partiu o pão e deu o cálice aos discípulos como memorial de sua morte, estabelecendo um novo rito pascoal, que lembraria sua morte (Lc 22.15-20). Dessa forma, Jesus se apresenta como o cumprimento da Páscoa. Assim, a Eucaristia ou Ceia do Senhor é um novo memorial para uma Nova Aliança (ver Mt 26.26-29). Consequentemente, a celebração bíblica da Páscoa ocorre todas as vezes em que partimos o pão e bebemos do cálice, “anunciando a morte do Senhor até que ele venha” (1Co 11.27).
          Além disso, o Novo Testamento nos mostra em outra passagem que a celebração bíblica da Páscoa se realiza através de uma vida santa. Repreendendo aos coríntios por permitirem a imoralidade no seio da igreja, o apóstolo Paulo usa a figura da páscoa para exortá-los a tratar do pecado, até mesmo excluindo o pecador impenitente. Ele diz: Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade”. O que ele quer dizer é que a morte de Cristo, nossa páscoa (tradução literal), faz de nós, seu povo, nova massa, sem o fermento do pecado. Esta é uma alusão aos pães asmos usados na celebração pascal da Velha Aliança. A igreja é o povo santo de Deus e deve celebrar uma vida santa porque Cristo já morreu pelos nossos pecados. Deve evitar que o velho fermento do pecado volte a perturbar. Desse modo a celebração cristã da páscoa se dá através de uma vida santa e pura. A celebração da morte de Cristo na Ceia do Senhor e a vivência de uma vida pura e santa, que é fruto da morte redentora de Cristo, são a verdadeira expressão da Páscoa.