«Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o
primeiro que lhe atire pedra». Jo 8:7
A
maioria das pessoas conhece a frase acima e a usa, especialmente quando é a seu
favor. Algumas usam do modo certo, outras com uma interpretação equivocada. A
frase foi falada por Jesus a um grupo de escribas e fariseus que haviam trazido
à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e estavam prestes a matá-la
a pedradas. Eles fizeram-na ficar em pé, no meio de todos, expondo-a à vergonha
(Jo 8.3). A lei de Moisés sentenciava os adúlteros à morte (Lv 20.10; Dt
22.22-24). Eles citam a lei, perguntando a Jesus qual sua opinião. Sua intenção
clara não era glorificar a Deus, mas tentar Jesus para ter do que o acusar
(8.6). E, depois de muita insistência da parte deles, Jesus lhes responde com
as palavras acima grafadas.
A
resposta de Jesus indica que ele não considerava o adultério coisa de somenos.
Ele não questiona a lei. Não fala nada que sequer insinue a inocência da mulher
ou que negue a gravidade do pecado. Ele sabia e concordava com sua própria
palavra, que «o que adultera com uma mulher está fora de si» (Pv 6.32) e que o
adúltero «achará açoites e infâmia e o seu opróbrio nunca se a pagará» (Pv
6.33). Também não estava o Senhor sugerindo que este pecado hediondo não
deveria ser julgado e punido com rigor.
Ele mesmo estipulou os procedimentos a serem adotados pela igreja quando alguém
peca, dando à igreja autoridade para atar e desatar (Mt 19.15-20).
Em
primeiro lugar, o que Jesus quer dizer quando fala: «Aquele que dentre vós
estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra» é que quem acusa o
faltoso precisa ter coerência. Não pode querer tirar o cisco do olho do irmão quando
tem uma trave no seu próprio olho (Mt 7.1-5). Quem quer tratar do pecado
precisa começar com a própria vida. Sem coerência, ninguém tem autoridade para
julgar. Foi por falta de coerência entre a pregação e a vida que os escribas e
fariseus se retiraram (8.9).
Em
segundo lugar, as palavras de Jesus significam que quem acusa o faltoso precisa
fazê-lo com temor e tremor. É necessário o acusador ter em mente que é um réu
justificado pela graça, um pecador tratando com pecadores. A frase «Aquele que
dentre vós estiver sem pecado...», faz-nos lembrados de que, perante Deus, «não
há justo, nem sequer um» (Rm 3.10), «porque todos pecaram e carecem da glória
de Deus» (Rm 3.23). Por isso, toda disciplina deve ser ministrada com espírito
de brandura e com a consciência do perigo da própria queda (Gl 6.1).
Em
terceiro lugar, Jesus quer nos ensinar que quem acusa o faltoso deve fazê-lo
com espírito de perdão. O próprio Jesus declara o perdão à mulher, quando diz:
«Nem eu tampouco te condeno», embora a tenha advertido quanto aos frutos do
arrependimento: «Vai e não peques mais». A igreja só tem o direito de rejeitar
o faltoso como gentio e publicano se ele permanecer incorrigível e contumaz (Mt
18.17). Diante dessas verdades, podemos entender porque a palavra de Deus nos
recomenda: «Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas
também tentado» (Gl 6.1). Por que hoje você é a pedra. Amanhã, pode ser a
vidraça.