“Responderam: De César. Então, lhes disse:
Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Mt 22.21
Quão
atual e oportuna é esta verdade nestes dias em que as eleições se aproximam e a
igreja evangélica em geral flerta com o poder temporal e se prostitui em
alianças político-partidárias excusas. Torna-se ainda mais atual quando se
conhece o contexto sócio-político e cultural. Para os judeus em geral, a odiada
captação de impostos simbolizava submissão ao governo explorador de Roma. Aproveitando-se
desse fato para surpreender Jesus em alguma palavra, os fariseus lhe perguntam
se era lícito submeter-se aos impostos. A pergunta tem um flagrante viés político-partidário.
Um “sim” representaria conformação ao domínio opressor de Roma (herodianos
contra povo e fariseus); um “não” seria tomado como ato de sedição e revolta
contra o Império (fariseus contra Herodes e império). Jesus responde de modo a
colocar a questão em seu verdadeiro foco: “Dai,
pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Nosso Senhor está dizendo que há duas
esferas: temporal e eterna. Não se trata de dividir a vida em compartimentos,
como se os deveres de qualquer destas cidadanias pudessem ser cumpridos sem
referência aos da outra. Significa que o homem tem mais do que uma lealdade, e
que não pode negligenciar nenhuma das duas, exceto quando ambas estão em conflito. O Estado
deve ser respeitado e suas diretrizes obedecidas dentro da sua própria esfera.
Ele atua para o benefício do povo. Porém, “César não tem direitos nos domínios
de Deus”. Ela tem muitas implicações referentes à participação da igreja no
pleito eleitoral. Não se pode usar a religião como instrumento de cooptação dos
fiéis para fins eleitoreiros. O fato de um candidato ser crente, por exemplo,
não significa que ele é o melhor (ou o pior). E o fato de um candidato dizer
que vai ajudar a igreja quando for eleito não o torna o melhor candidato (mas é
bem provável que seja o pior). Não se deve usar o nome de Deus para ganhar
votos e o púlpito da igreja não pode ser usado como palanque eleitoral. “A César
o que é de César e a Deus o que é de Deus”. A igreja não deve “flertar” com o
Estado, muito menos com partidos políticos (o que é diferente de relacionar-se
com o Estado). Como disse o Pr. Isaltino Gomes, “a igreja não é de direita, de
esquerda ou de centro. A igreja é do alto”. (Fp 1.27; 3.20). Isto não significa
que a igreja deve se alienar politicamente (como fizeram os essênios).
Significa, antes, que ela deve atuar nas duas esferas mantendo sua primeira
lealdade ao reino de Deus e deve caminhar com o Estado procurando influenciar
para que este absorva os valores de Deus quanto à justiça e o bem comum. A
igreja tem de exercer um triplo papel: interceder
pelos que estão no poder (1 Tm 2.1-2); profetizar,
denunciando a opressão e a corrupção (Is 1.17); e praticar boas obras, manifestando, assim, a luz da glória de Deus (Mt 5.14-16).
Para exercer seu papel com eficácia a igreja precisa ter isenção. Por isso,
enquanto instituição, não deve se envolver com política partidária. Igualmente,
a igreja não deve ser patrocinada pelo Estado, a não ser em obras sociais como
sua parceira, como previsto na Constituição. Mas isto não inclui construção de
templos ou empregos “fantasmas”, ou para usar um termo mais sutil, “ficar à
disposição” do deputado ou do senador “fulano de tal”. Se tiver isenção, a igreja vai ter liberdade
para ser parceira do Estado quando este está realizando políticas visando ao
bem comum, bem como para ser crítica do Estado quando ele estiver negligenciando
estas coisas e trabalhando em função de um projeto de poder. Fazer isto é dar a César aquilo que só pertence a Deus.
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