terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CONTANDO OS DIAS


“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”. Sl 90.12

Depois de algumas considerações desconcertantes sobre o ser de Deus e sobre a nossa natureza, a oração acima é a primeira de uma série de oito petições que Moisés faz neste salmo, sendo que a última se repete (v. 17b). Provavelmente ele estava no fim da vida quando compôs este salmo. É quando se está no fim da vida que mais se pensa no que se fez durante os anos que se passaram. Os anos da juventude, quando a força e a beleza estão em sua maior pujança, são tempos em que a gente se imagina onipotente e eterno, alimentando subconscientemente a ilusão de que vai viver e conservar para sempre o mesmo vigor e o mesmo viço. Por esta razão, quando jovens somos mais impetuosos e inconsequentes. Mas não precisa ser assim. E para que assim não seja somos ensinados neste salmo que contar os dias é uma das coisas que mais necessitamos aprender e, por isso, uma das coisas que mais precisamos pedir a Deus. Contar os dias nos faz alcançar um coração sábio. E isto não precisa ser no fim da vida, mas pode ser aprendido “antes que venham os maus dias e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer”(Ec 12.1). Mas contar os dias não é simplesmente nos preocupar com o avanço da idade, nem com as datas especiais do calendário. Que significa, então? E como seremos motivados a fazê-lo? Observando o contexto do salmo, podemos tirar algumas conclusões:

Primeiro, “contar os dias” envolve uma visão correta de Deus e de nós mesmos.  Saber quem Deus é – sua natureza e seus atributos – e quem nós somos. Esta primeira concepção tem alguns desdobramentos. É necessário admitirmos acerca de Deus, que ele é a nossa única morada nesta jornada tão transitória chamada de vida. Geração vai e geração vem e apenas ele permanece. Por isso, só ele pode ser o nosso refúgio. Não poderemos oferecer abrigo aos nossos filhos depois de nossa morte. Mesmo que deixemos alguma herança que julgamos servir-lhes de amparo, quem pode garantir que eles a desfrutarão? Pois, como disse o Pregador, “se tais riquezas se perdem por qualquer má aventura, ao filho que gerou nada lhe fica na mão”(Ec 5.14).  Mas o Senhor é eterno. Antes que a terra e o mundo entrassem em trabalho de parto Ele é Deus! Mil anos para ele são com ontem, tempo que já passou, pois ele não é como nós, limitado pelo tempo. Por isso, só ele pode dar estabilidade à nossa vida instável.

Contar os dias, no entanto, também envolve saber que esse mesmo Deus eterno foi quem impôs aos homens, por causa do pecado, uma sentença de morte. É ele quem nos reduz ao pó (v.3). Isto nos leva a refletir sobre quem nós somos: seres transitórios vivendo sob a sentença de morte de um Deus eterno. Nossa vida é tão passageira que três figuras são usadas pelo homem de Deus para descrevê-la num só fôlego: a torrente, o sono, a erva do campo. Como a vida passa depressa! Mas, como se tudo isto não bastasse, somos também pecadores vivendo perante um Deus que é santo e que conhece até aquilo que não revelamos ao amigo mais íntimo. Os poucos anos que temos são passados, assim, debaixo da ira desse Deus santo, inclusive sofrendo seus juízos temporais, prenúncio do Juízo Final.

Todavia, a maioria de nós nem percebe o “poder da sua ira, e a sua cólera, segundo o temor que lhe é devido”! (v.11). “Contar os dias”, portanto, envolve refletir sobre a santidade de Deus e sobre a nossa pecaminosidade latente. Significa reconhecer a brevidade da vida diante de um Deus eterno e o demérito de nossos pensamentos, palavras e ações perante um Deus que é santo e onisciente. Quanto mais cedo aprendermos estas verdades e quanto mais frequentemente as trouxermos à mente, mais sábios nos tornaremos. Pois o reconhecimento de quem Deus é e de quem nós somos nos levará a clamar humildemente, sabendo que esse Deus que nos pode destruir por causa santidade, é o mesmo que pode nos salvar por sua misericórdia. Contar os dias nos levará a dobrar os joelhos diante dele suplicando: “Volta-te, Senhor”; “tem compaixão dos teus servos”; “sacia-nos de manhã com tua benignidade”; “alegra-nos”; “manifesta-nos as tuas obras e, nelas, a tua glória”; “confirma a obra de nossas mãos”. Isto tudo se resume em duas palavras: rendição e à dependência. Neste início de ano, quando ficamos mais apercebidos da brevidade da vida, quero encorajá-lo a fazer dessa sua oração mais fervorosa: “ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”.